Concílio de Cartago 397 d.C.

A Escolha dos Livros Canônicos no Cristianismo:

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A formação do cânon cristão é um processo complexo e fascinante que remonta aos primeiros séculos do Cristianismo. O cânon cristão é dividido em dois principais grupos de escrituras: o Antigo Testamento, que compartilha muitos livros com o Tanakh judaico, e o Novo Testamento, que inclui os Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Epístolas e o Livro do Apocalipse.

Desenvolvimento Histórico:

Nos primeiros anos do Cristianismo, não havia um cânon cristão unificado. Diferentes comunidades cristãs usavam diversas coleções de escrituras em seus cultos e ensinamentos. A necessidade de estabelecer um cânon surgiu à medida que o Cristianismo se expandia e se deparava com questões teológicas.

O Concílio de Niceia, em 325 d.C., foi um marco importante na história cristã, mas não definiu o cânon. Posteriormente, o Concílio de Cartago, em 397 d.C., e outros concílios, desempenharam um papel crucial ao reconhecerem a autoridade de certos livros, contribuindo assim para a formação do cânon cristão.

Papéis dos Concílios e Líderes Religiosos:

Além dos concílios, líderes religiosos tiveram influência significativa na discussão sobre os livros canônicos. Agostinho, um dos líderes da Igreja mais proeminentes, defendeu a canonicidade de certos livros e elaborou critérios para determinar a canonicidade. Esses critérios incluíam a apostolicidade (se o livro estava associado aos apóstolos), a ortodoxia (se estava de acordo com a doutrina cristã ortodoxa) e o uso litúrgico (se era utilizado nas práticas litúrgicas da igreja).

Critérios de Canonicidade:

Os critérios de canonicidade desempenharam um papel crucial na seleção dos livros canônicos. Os líderes religiosos avaliaram cuidadosamente cada texto para determinar se ele atendia a esses critérios. Os textos que eram considerados autênticos e consistentes com a fé cristã eram mais propensos a serem incluídos no cânon.

Controvérsias e Debates:

A formação do cânon não ocorreu sem controvérsias e debates. Uma das questões mais notáveis foi a inclusão dos chamados "Deuterocanônicos", livros presentes no cânon católico, mas ausentes no cânon protestante. Estes incluem livros como Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão e outros. Os debates sobre a canonicidade desses livros continuaram por séculos.

Além disso, outros textos apócrifos, como os Evangelhos Gnósticos, foram rejeitados como não-canônicos. Esses textos apresentavam visões divergentes da fé cristã e não atendiam aos critérios de canonicidade estabelecidos.

Diferenças entre Tradições Cristãs:

É importante ressaltar que diferentes tradições cristãs têm cânon ligeiramente diferentes. A Bíblia católica, por exemplo, inclui os Deuterocanônicos, enquanto o cânon protestante não os reconhece. As igrejas ortodoxas orientais têm suas próprias tradições canônicas, que podem incluir livros adicionais. Essas diferenças refletem decisões históricas e teológicas das diferentes comunidades cristãs.

Em conclusão, o estudo detalhado da escolha dos livros canônicos no Cristianismo revela um processo histórico complexo e multifacetado. Concílios ecumênicos, líderes religiosos, critérios de canonicidade e controvérsias desempenharam papéis cruciais na formação do cânon cristão. A diversidade de tradições cristãs também é evidente nas diferenças entre os cânones. Essa história rica e intrincada continua a ser objeto de estudo e discussão teológica, proporcionando uma compreensão mais profunda da fé cristã e de sua evolução ao longo do tempo.

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